domingo, agosto 16, 2009

Estou de volta

segunda-feira, janeiro 01, 2007

Novo Ano

Parto daqui a umas horas para o novo Ano. Quis que começasse bem longe, como se assim fosse possível deixar para trás o que já não quero e não me serve, e voltar de energia renovada!
Ainda no ano passado escrevi num pedaço de papel o que queria apagar de 2006 e o que queria para 2007. Confiei o papel a quem eu tenho a certeza que estará ao meu lado daqui a uma ano, para que juntas possamos abrir e ver o que fomos capazes de fazer.
O ano terminou com uma tristeza, que queria deixar para trás mas parece-me que vou levá-la sempre comigo. É uma parte muito grande e muito importante da minha vida, não poderia ficar para trás! Mas a tristeza vem da sensação de “desarrumação”, essa parte importante ainda está muito desarrumada.
Uma das resoluções para 2007 é arrumar a casa. Já é altura! Preciso da casa, tal como preciso de fugir dela de vez em quando.
Mas faz-me muita falta a minha casa ... Sonhei uma vez que vivia numa casa sem tecto J , agora sinto-me como se vivendo numa casa em que as divisões estão trocadas, e algumas muito vazias.
2007, estou a caminho!

sábado, dezembro 16, 2006

Distância

Procuro um nome para esta sensação que trago no peito, que é semelhante a um buraco, não de vazio mas de distância.
Um distância semelhante a uma viagem pela multidão dentro de uma redoma de vidro. Posso ver, quase posso tocar, quase posso sentir. Mas há uma barreira tão fina, mas ao mesmo tempo tão resistente que me mantém distante, que não me deixa integrar.
No mundo terreno e visível isto é imperceptível à vista desarmada. Sigo segura das minhas decisões e convicções e viajo sem receio distribuindo sorrisos.
É no mais intimo dos meus segredos que se vive este dilema. Em que há tantas coisas que queria partilhar e não encontro como o fazer.
Não porque existam pessoas interessadas e empenhadas em fazer-me feliz, mas simplesmente porque não encaixam da forma correctamente idealizada dentro do meu mundo.
Não consigo encontrar o meu ideal de família, ou simplesmente não consigo reinventar um novo modelo em que sinta efectivamente feliz.
Há muitos momentos grande felicidade, mas falta-me a sensação de plenitude, como se de um verdadeiro alinhamento se tratasse, em que tudo encaixa, tudo flui.
Não consigo encontrar o meu ideal de relacionamento, porque invariavelmente choca com o meu modelo de família, ou fica aquém das minhas mais básicas (no sentido de mais profundas) necessidades.
Ou então choca com um modelo de mim própria, que também não consigo encontrar.
Sendo que pior que o desajustamento perante o ideal, é a ausência de compreensão da minha própria natureza, dos meus anseios e dos meus afectos. E da forma como isso choca com alguns ideais muito virtuosos que preconizo, de total transparência e dedicação, que são efectivamente nobres e elevados, mas que não facilitam muito a vida terrena, especialmente porque é a mim em primeiro lugar que eles condicionam e não deixam viver. Simplesmente viver.

terça-feira, dezembro 12, 2006

Outra vez o Amor e o Desejo

Hoje lia mais um artigo sobre como os homens e as mulheres entendem o amor e o desejo de forma diferente.
Teorizava a autora:
“Os homens desejam sempre, só amam muito de vez em quando. As mulheres amam muitas vezes, e por isso deixam-se levar pelo desejo, que também é o desejo de serem amadas.”
Dou por mim farta desta tolerância com as diferenças. Se para mim o amor e o desejo caminham de mãos dadas, e só desejo quem amo e amo quem desejo. Porque fico tentando entender quem me diz que é possível amar, mas sentindo desejo por outro que não o tal ente amado.
Bom, talvez seja melhor refrasear: sou tolerante com as diferenças. Sim, há efectivamente quem pense de forma diferente da minha e não devo ter a pretensão de converter essa diferença à minha forma.
Haverá no entanto quem pense da mesma forma que eu, e haverá também quem me ame da mesma forma que me deseja e vice versa.
Porque teimamos em converter os que são diferentes é que é realmente um mistério.
Não deveria antes seguir caminho e procurar o que verdadeiramente me completa e faz feliz?

Estou cansada de me colocar noutro lugar que não o meu. Escutar, entender e sentir de uma forma que não a minha, mas que é a do outro.
Proclamo um entendimento que nasce da cedência e do consenso, quando na verdade sou implacável comigo própria.

Não fui condescendente comigo própria quando falhei. Perdeu-se a confiança então, não há caminho de volta. Não poderia viver constrangida, ou me sentindo em permanente acto de contrição: Justificando cada passo e cada palavra.
Não esperei que se recuperasse aquilo que se tinha perdido. Decidi que deveria procurar noutro local e recomeçar da mesma forma, acreditando nas mesmas coisas.

E se encontro quem pensa e age de forma diferente da minha, devo ser condescendente? Ou ser simplesmente tolerante: respeito outras formas de pensar, mas simplesmente não me servem.

Espelho Meu

À pergunta “o que quero?” parece seguir-se inevitavelmente “o que mereço?”.
Não porque tenha optado por uma estratégia mais passiva ou contemplativa em que aguardo serenamente o que o destino me reserva (seja o que for), mas porque em determinado momento dou conta que as minhas opções (o que quero) nem sempre parecem estar à altura daquilo que verdadeiramente posso aspirar (o que mereço).
Ou porque simplesmente vou tomando consciência de que “ainda não é isto que quero”, que é uma atitude bem mais afirmativa do que aquela que não deixa de ter um tom resignado: “mereço mais que isto”.
Existe no entanto em mim uma teimosia quase absurda, que insiste em procurar aquilo que em algum momento me prendeu, mesmo que tenha sido uma ilusão ou uma projecção das minhas próprias fantasias. E que curiosamente também funciona em sentido oposto, pois se não desisto de procurar o melhor do outro. No momento em que o pior se torna evidente e irrefutável, a mesma teimosia me impede de relativizar e insiste com a interpelação: “é isto que mereço?”

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Mudar


Voltei.
Mudei de visual. Pintei-me de azul. Juntei as nuvens. Procurei o farol.
Esta sou eu.

quarta-feira, setembro 13, 2006

Mary Melancólica

Mary está hoje um pouco melancólica. Não há muita coisa que a faça rir, o que é um sério sintoma de aborrecimento generalizado. Mary não está de neura. Não. A neura é um estado oficial quando Mary embirra com alguém ou com alguma coisa. Mary adora definições e grandes teorias, como tal Mary define melancolia como falta de vontade de sorrir e neura quando tira essa vontade a alguém, normalmente alguns especiais eleitos, criteriosamente seleccionados.
Mary está, para já, apenas surombática, ou macambuzia, ou de “sobrancelha caida”.
Mary olha pela janela e vê a chuvinha cair lá fora, Mary pensa “que chatice vim de sandálias”. Sim. Mary está melancólica, não pensativa. Como tal não poderá produzir nenhum tipo de pensamento metafórico profundo em relação à vida, à chuva e ao recomeço outonal.
Mary está simplesmente chateada de ter voltado ao trabalho, de o trabalho estar a mesma chatice de sempre, de estar a chover e de o cabelo ter ficado mais loiro do que era previsto.
Mary tem agora um pensamento profundo: como esta vida é irónica.... tenho na cabeça um fogaréu que se vê a 2 km de distância e por dentro a chama está azulinha azulinha, assim como quando o gás está mesmo mesmo a acabar.
Mary precisa de uma roupa nova, é oficial.

sexta-feira, setembro 01, 2006

Mary e a Arquitectura Moderna

Tenho hoje um almoço de homenagem a um colega que parte agora para a dolce vita da Pré reforma.
O almoço será nos Dias d ‘Água, um daqueles restaurantes experimentais em local totalmente improvisado (basicamente um beco entre dois prédios). Mas porque tem umas mesas à sombra de uma parreira e a ementa tem algumas palavras estrangeiras e muitos legumes, a coisa ganha logo um chiqué intelectualóide.

Posso dizer, aliás, que escolhi o meu prato com antecedência (noblesse oblige) e apesar de ter olhado para a rúcula, cous cous e beterraba com interesse e curiosidade, acabei por ficar pelo Penne Rigatte com Farinheira e Espargos Verdes.
Para a sobremesa voltei a optar pelo light, e como tal escolhi Crumble de Maçã com gelado de baunilha e fios de caramelo.

Para além da participação no repasto, fui incumbida de tratar do presente para a homenageada.
Das várias sugestões que recebi (livros de arquitectura moderna, peças de decoração minimalistas, artigos de viagem do Coronel Tapioca, etc etc) a que mais me entusiasmou foi a que chegou off the record e recordando a abundância capilar na zona do buço da homenageada, sugeria uma pinça.

Bom, isto nos meios intelectuais não é assim tão fácil... Nós as Giras achamos que o pêlo no buço é medonho, mas elas, as Intelectuais, às vezes acham que o pêlo é um género de afirmação social: o corpo assumido em pleno com todos os seus defeitos e virtudes... tipo Frida Kahlo, estão a ver?
Eu, Intelectual e Gira, optei por olhar para a testa quando falo com ela e assim desviar a atenção do bigode. Sou a favor da liberdade acima de tudo, liberdade política, liberdade religiosa, liberdade sexual e porque não liberdade pilosa? Mais nada!
Assim sendo, não optei pela pinça e fui até à Fnac, onde estive a investigar a zona de livros de arquitectura.

Fiquei absolutamente espantada com o tamanho dos livros e panóplia de fotografias. E as resmas de nomes de gajos esquisitos (arquitectos suponho eu...) dos quais eu nunca tinha ouvido falar?
Carreguei (literalmente) uns livros até à zona de leitura e decidi escolher não só pelo nome na lombada (que confesso foi o meu primeiro impulso...) mas também pelo conteúdo.
Comecei por desfolhar uma compilação da obra de Frank Loyd Wright, que é um (se não O mais importante) arquitecto norte-americano e também o quase fundador da arquitectura moderna.

As casas eram realmente lindíssimas, mas confesso que algumas tinham um ar vitoriano... algo me estava a escapar... sempre pensei que arquitectura moderna era assim uma coisa futurista ... tudo rectas e curvas que desafiam a gravidade, no meio de metais cromados e muitos vidros.

Parece que não... afinal a arquitectura moderna nasceu no inicio do século passado, e a grande inovação da modernidade foi a rejeição do ornamento e clara opção pela economia e utilidade. O pós modernismo esse sim! Volta a dar atenção à cultura popular e ao contexto onde se irá inserir o objecto.

Resumindo, com o Modernismo rompe-se com a História e critica-se a escola do Ecletismo. Com o Pós modernismo volta-se novamente à revalorização histórica e inicia-se o Contextualismo.

Sou fascinada por estes ismos, principalmente a forma como surgem estes chavões para designar as tendências. O Maneirismo é p.ex. um termo que dá que pensar, tanto poderia significar “com maneiras, muito educadinho e asseadinho”, como um estilo cheio de peneiras, tiques e falsetes.

Mas o mais fascinante de tudo isto foi descobrir que a grande inovação do Frank, esse grande ícone do modernismo, estava afinal transposição para a arquitectura da transformação da vida doméstica que ocorreu na viragem para o século XX.
Menos criadagem resultou em casas mais amplas e com mais portas entre as divisões. Para quê? Para que a dona da casa (vulgo Xepa) pudesse estar no seu “workplace” – mais vulgarmente chamado de cozinha, e ainda assim poder controlar as crianças e circular até à sala de refeições onde estarão os convidados.

Sem palavras.