quarta-feira, agosto 30, 2006

O Que Nos Toca o Coração?

Leio relatos de paixões que me fazem arrepios na espinha. Confesso-me incondicional fã de contos eróticos e de aventuras escaldantes. Não me sinto escrava do meu corpo, mas sei que ele me trai muitas vezes. Não sei se sigo os meus impulsos mais básicos, ou se simplesmente não dispenso esse frio na espinha.
Gosto do risco, da aventura, do riso, da loucura. Gosto da paixão. Gosto de estar apaixonada.
Mas acredito num amor para a vida. Ou no amor de uma vida. Ou partilhar a vida com um amor.
Como posso viver as duas coisas? O que me faz feliz, afinal: O que me toca o coração, ou o que me incendeia a pele?
Poderei ter as duas coisas?

Partilhar a vida com um amor. Partilhar sonhos e projectos de vida. Partilhar amizades, fazer uma história. Ver crescer os filhos, como uma parte de nós.
Os filhos. A mais suprema das partilhas. Uma parte de mim e do outro. Ali fundidas, pela mistura dos nossos corpos e das nossas almas.

Deitar a cabeça na almofada e tocar-lhe antes de dormir. Saber que está ali, e que amanhã também estará. E que me protege, com força e carinho. Sem segredos. Não há mistérios, nem passados. Acabaram os pesadelos. Dormir confiante, que amanhã será mais um dia, a rotina de sempre. Mas nunca esta rotina poderá ser aborrecida.
Façamos desta rotina antes um ritual. O nosso ritual, as nossas coisas. Os gestos que repetimos mecanicamente sem pensar, que sejam os sinais da nossa intimidade que sabemos de cor. Que as manias tolas não nos exasperem, mas nos façam rir.

Façamos do carinho um ritual. Que o beijo pela manhã seja sempre dado com os olhos fechados e não de fugida. Que o telefonema durante o dia, seja feito porque pensamos no outro e queremos ouvir a sua voz, e isso não pode esperar para logo. Mesmo que haja “logo” todos os dias. Que o abraço que damos no final do dia, seja o abraço do reencontro de quem estava cheio de saudades.

Que a nossa vida seja um prazer. Que a companhia do outro seja insubstituível. Que não exista ninguém em cada momento com quem mais quiséssemos estar. E mesmo quando estamos longe, que seja no outro que pensamos, e em como gostaríamos que ele ali estivesse e nos visse, ou partilhasse aquele momento connosco.

Estou rendida ao amor. Não quero um amor “morninho", nem caseirinho. Mas quero o meu ritual do amor.

quarta-feira, agosto 23, 2006

A Culpa é dos Astros

A culpa disto tudo é da hora a que nasci. Os astros estavam mal alinhados (de neura certamente...), e então o Sol em Caranguejo com a Lua em Sagitário produziu um “indivíduo complexo”. Segundo a Liz Greene (conceituadíssima astróloga), aqui a kida, interiormente é “natural, easy-going e home loving”. Sensível aos outros e aos ambientes externos, e muito apreciadora de relações amigáveis, francas e espontâneas.

Mas parece que os outros me vêem como incansável e instável, mental e fisicamente (ora, ora...). Mas de disposição honrada, sincera e afável.
Diz ela, também, que tenho uma forte intuição e sou talentosa (he he he), com elevado potencial para as questões filosóficas, mas que posso ser muito sectária... de vistas curtas, portanto.

Ao que parece há um conflito interno latente: interiormente sou natural e descontraída, mas afirmo-me ao exterior com uma apaixonada convicção e busca de ideais maiores.

Um dia estou a cozinhar de aventalinho e chinelos, e de repente vejo qualquer movimento cívico na televisão e alisto-me de imediato. E passada uma semana lá estou a tratar de velhinhos, criancinhas doentes, ou a equilibrar chakras no meio de loucos por cristais e tranças rasta.

Eventualmente volto para servir o jantar.

Mas isto não fica por aqui....

Para começar há o lado dualístico do ascendente sagitário mais o júpiter na 2.ª casa, parece que as situações dividem-se apenas em dois aspectos – sucesso ou falhanço.

Se elevar os meus interesses acima do trivial parece que o meu intelecto fica muito filosófico, e mais intuitivo que racional.
Ora lá está. Um dia estou muito bem a pintar as unhas e de repente lá surge aquela questão metafísica da importância do tempo e do que se faz com ele, e se aquilo que estou a fazer é realmente bom para mim.
Normalmente é. Gosto muito de ver as minhas unhas pintadas de branco, fazem-me as mãos mais delicadas.

Em qualquer dos casos, racional ou intuitiva, filosófica ou mundana, dizem os astros que a minha vida será sempre colorida por tendências de grande impulsividade e algumas casmurrice, criando alguma inclinação para ir aos extremos.

A parte divertida disto tudo é que o centauro me dá um grande amor pela natureza, e me torna um sei lá quê extrovertida, demonstrativa e apaixonada. Aliás parece que me apaixono com frequência e sempre sem reservas.

A senhora que fez este mapa estava inspiradíssima, e diz que sou uma moça intelectual e inteligente, que também tem a sorte de ter sido abonada com um bom desenvolvimento das funções emocionais.

Ocorrem-me algumas questões relacionadas com este bom funcionamento, especialmente ligadas à abundância de fluidos, mas isso agora não interessa nada.

A praga continua e está-me prometida uma vida romântica intensa e variada. Não sei onde é que essa variedade se escondeu até à data, não gostaria nada de ser uma daquelas velhas toleironas rodeada de rapazotes... bom, se calhar pensando bem ... :-)
Mas talvez o segredo da variedade seja investir nas múltiplas personalidades, assim tipo um 5 em 1, quem sabe...

Esta dualidade tem vantagens, primeiro permite o “multi-tasking” em larga escala. Posso estudar várias disciplinas ao mesmo tempo e ainda fazer manter o corpo em movimento.

Mas o melhor de tudo é que tenho fortes possibilidades de prosperar financeiramente, através de trabalho árduo, engenho e génio.

Pois, eu preferia ter só sorte, mas lá tenho de trabalhar...

Ainda assim há uma coisa qualquer fortíssima no meu mapa relacionada com o poder de fazer dinheiro.

Aquela parte que está relacionada com o grande poder de o gastar, deve aparecer em rodapé ou letras miudinhas algures...

A embrulhada continua agora lá para os lados da 7ª casa.
Aqui está o Sol, o que significa que os relacionamentos são o fócus da minha existência.
Ora aqui os relacionamentos tomam múltiplas formas, tanto são sociedades, como casamento. Ou seja qualquer tipo de contrato ;-) é, não só, o meu objectivo primário como também o motor do meu progresso.

Em qualquer dos casos, nesta vida poderei esperar longos relacionamentos e nobres amizades.

Não deixa de ser curiosa a presença de Saturno (o grande maléfico) na mesma casa.

Este tipo não só me limita os relacionamentos com os outros: serei sempre cautelosa e avançando vagarosamente até atingir segurança. Como também me promete sofrimento nas relações, mais uma vez derivados de imposições à minha liberdade pessoal.

Vénus, por sua vez, instalou-se na 8ª casa.

Isto dá-me uma tendência para envolvimentos profundos e intensos, do estilo amor e redenção mas, mais uma vez, as possibilidades de ganhar dinheiro através de associações ou parceiros são enormes.

As oportunidades de progresso financeiro e social serão excelentes, mas só lá para a meia idade, quando finalmente estabilizar a minha vida através do casamento ou qualquer outro tipo de relação intima.

Parece que serei mesmo uma velha rica e toleirona....

Neura

A neura, é uma abreviatura de “neurastenia” (este blog é muito erudito).
Ora, a neurastenia não é mais que uma espécie de neurose em que o principal sintoma é um estado de cansaço que não é provocado por uma anemia, infecção, subnutrição ou qualquer outra doença identificada.

Bom,
Basicamente é um daqueles estados em que tudo nos incomoda, tudo nos irrita e não se sabe bem porquê. Os sintomas são facilmente identificáveis: sensação de estado amorfo – “quero lá saber”, acompanhada de indolência – “não me chateiem”.

A doença tem especial incidência no sexo feminino e ataca de surpresa, causando grande impacto, especialmente, nos que são mais próximos do doente. Estupefactos, não conseguem entender a razão do mau humor “se ainda há 2 horas atrás estava tudo tão bem”

Ora isto dos humores femininos é uma coisa complexa.
Pois.
Estava para começar a dissertar sobre esta temática que afecta as mulheres em geral, mas quero lá saber das outras gajas!! Cambada de chatas, sempre de neura ... não me chateiem com isso!
Agora que a minha neura é oficial poderei então falar do tema que realmente mais me agrada: eu própria.

sexta-feira, agosto 18, 2006

Nós as Giras

O despertador toca às 10h. É preciso madrugar porque o cabeleireiro está marcado para as 11h. Uma canseira é verdade, mas um convite inesperado para um casamento às 16h30 obriga a este pequenos sacrifícios.
Que chatice, estava mesmo a meio de um sonho! Um daqueles recorrentes, com montes, ladeiras e muita correria.
O terapeuta diz que estes sonhos significam excitação sexual.... É um querido o rapaz, mas lá tive de lhe explicar que os meus sonhos de sexo são bem mais explícitos. Estes das correrias devem ser os apelos do subconsciente para não faltar ao ginásio.
Voltei-me para o outro lado, afinal estava a fugir de 3 sinistras personagens, tinha de perceber como terminava perseguição.
A meio de mais uma ladeira toca o telefone. Trabalho. Como é possível??? Trabalho às 10 e meia da manhã???
“Sim, estou de férias” Do outro lado muitas desculpas mas tinha mesmo de fazer aquela pergunta e ia sair para uma reunião. Desta vez passa, é novo na equipa, ainda não está habituado às rotinas. Ainda assim verifico se não se trata de nenhuma video chamada, é que este tem uma suspeita pontaria, hoje atendi na cama, da última vez foi na banheira.... Tolices minhas certamente.

Corro para o chuveiro, já estou atrasada (nada de novo é verdade) mas o ritual dos cremes e loções é sagrado.
No cabeleireiro aproveito para me actualizar nas revistas do coração. Todas a capas têm uma tia entradota de longos cabelos amarelados e grandes seios saltitando no biquini. Nada de novo.
Resolvo então concentrar-me na minha imagem ao espelho. O cabelo liso, cheio de brilhos dourados e as unhas côr de chocolate.
Volto a casa. Tenho duas horas para me arranjar. É pouco tempo, e ainda estou indecisa em relação às sandálias, mas não posso stressar!

O fio dental acetinado é de um encarnado vibrante, parece ainda mais atrevido assim junto à pele agora dourada pelo sol. Assim só de tanga e cai-cai experimento as sandálias pretas de tiras e salto agulha frente ao espelho. Os 15 cm a mais obrigam-me a empinar o peito para que as costas fiquem bem direitas.
Gosto de ver o pé a espreitar com as unhas chocolate por dentro das tiras. Ainda assim hesito e calço outros sapatos. Mas as sandálias convencem.

O vestido é de cetim preto, com um corpete justo que me marca a cintura e acentua as ancas. Termina num folho abaixo do joelho que vai dançando à medida que dou aqueles pequeninos passos que a saia me permite.
Ponho um pouco de brilho nos ombros despidos e um colar fino e dourado bem junto ao pescoço.
A silhueta ao espelho é cheia de curvas, montes e ladeiras como nos meus sonhos. As medidas podem não ser padrão mas gosto especialmente da proporcionalidade: a curva dos seios que desliza para a cintura e alarga novamente nas ancas, na mesma medida.

Termino com a écharpe de seda translúcida e tom carmim. Os olhos parecem mais verdes assim com o contorno negro e lilás e as pestanas curvas. E os lábios mais escuros e brilhantes de repente também ganham mais volume.

Estou pronta.

Desço até ao estacionamento. O arrumador parece meio hipnotizado e nem pede moeda. Paro nos sinais e alguns olhares espreitam para dentro do carro. São 4 horas de uma quarta-feira de verão, não era suposto circular desta forma, disfarço com os óculos escuros.

A cerimónia é rápida e sobram algumas horas de sol. Junto ao rio peço um copo de vinho rosé. Um pouco de álcool distrai-me os sentidos, deixa-me mais lânguida e com o andar mais insinuante. Sacudo os cabelos e a noiva diz-me que estou linda e pede-me para dar uma voltinha.
Retribuo o cumprimento com um sorriso e dou o rodopio pedido.

Nós as giras somos assim.

terça-feira, agosto 15, 2006

Dilema do Trópico de Câncer

"O eterno dilema do Eu. Se por um lado não somos capazes de amar alguém sem nos amarmos a nós próprios, por outro lado não somos ninguém sem nos darmos e darmos aos outros"

O dilema do EU e do NÓS.

Poderá o Eu sobreviver ao Nós? Ou terá o Eu de renunciar para que o Nós exista?

Sobrevivência, Renúncia. Palavras que soam a sacrifício.
Existe uma atitude de resistência nestas questões, de medo de perda de identidade.
Mude-se a atitude e surgem novas palavras:

Poderá o Eu harmonizar-se com o Nós? Ou terá o Eu de ceder para que o Nós cresça?

A atitude com que se vive as relações, o Amor, normalmente define o seu sucesso.
Como se mede o sucesso no Amor? Haverá muitas teorias relacionadas com a qualidade e quantidade de parceiros, mas eu prefiro aquela, mais simples, que diz que um Amor bem sucedido é aquele que é correspondido.
Amar e ser amado. Sem medidas nem tabelas de correspondência, apenas a justa medida em que nos faz feliz.
Porque é amar que nos faz feliz, não o Outro.
Esperar que o Outro nos faça feliz é uma atitude em que o Eu rivaliza com o Nós. Não existe amor sem entrega, incondicional, sublime ... assustadora.
Medo, tanto medo de perder o chão, de perder o "Eu", mas como existe o Eu sem o Nós?
Não existe entrega sem dor. É inevitável.

Há alguns anos li um romance sobre um grande amor, contrariado e muito sofrido. Um amor que se alimentava de pequenos gestos, tão pequenos e fugazes mas tão intensos que faziam esquecer toda a dor. Um amor que esperou anos por um momento, um único momento, de entrega sublime.
Uma fusão de corpos e almas, tão profundo e ardente esse Amor, que se torna combusto:

"Nesse momento os corpos de Pedro e Tita começaram a lançar faíscas brilhantes. Estas pegaram fogo à colcha que por sua vez incendiou todo o rancho. (...) O quarto escuro transformou-se num vulcão voluptuoso"

Acredito que o Amor pode ser uma fusão. Dois Eu's num só. Em que não há sacrificio, mas investimento. Em que todos os dias se reconquista o outro, e o coração rejubila porque estão juntos. E como é bom estarem juntos, como é bom partilharem aquela intimidade.
Como é bom sermos Nós. Também.

segunda-feira, agosto 14, 2006

O Amor é Piroso

"Vem viver a vida amor, que o tempo que passou não volta mais..."
É assim, ao som de José Cid, que me inspiro e nem poderia ser de outra forma. Porque Amar é piroso, tão piroso que só o José Cid poderia compor a banda sonora.
Quando se apaixonam, as pessoas ficam alteradas. Dizem as maiores baboseiras, usam diminutivos a torto e a direito, e utilizam ridiculos epítetos tão açucarados, que rivalizam com qualquer montra de pastelaria.
Até o tom de voz se altera, experimentem ouvir um apaixonado, ou apaixonada, a falar ao telefone. É assim como um ronronar de gato coberto de substância viscosa. E baixinho, quase sussurrante... será para ninguém perceber?... quando se vê à légua, basta olhar para aquele sorriso parvo e para os rabiscos em forma de coração que vai fazendo no papel enquanto fala...
"Bom dia 'morzinho - miaaauuuu - o docinho já acodou ? - prrrrr pprrrrrr "
Quando se ama entra-se assim num estado Zen apalermado, como se se tivessem fumado os pauzinhos de incenso, em vez de os deixar queimar.
Tudo está bem, fazem-se todas as cedências "como tu quiseres 'mor" e trocam-se centenas de beijos nos locais mais inimagináveis do corpo. Beijinhos nos olhos... beijinhos nos dedos... beijinhos nos sovacos!! É demais! Não se passar com um centimetro de pele à frente do outro, que pimba! Lá vai mais uma beijoca!
Escrevem-se sms, emails, bilhetes e cartoezinhos, com as frases mais inspiradas. Dignas do último romance do Nicholas Sparks (inspirações na Margarida Rebelo Pinto ultrapassam os limites da sanidade mental).
A expressão do apaixonado é o maior símbolo da piroseira: sorriso parvo permanente, olhar alheado, e respostas vagas às interpelações do restantes mortais (normalmente respondem com um hã?), e as inevitaveis lentes cor de rosa com que os apaixonados vêem o mundo... haverá côr mais pirosa?!
O amor é definitivamente piroso, e incompreensivelmente teima em não sair de moda. Todos usam, e quem não tem, está mortinho por usar. Há ainda os que não têem e façam troça: "olha que figura ridicula..." mas é afinal inveja, pura inveja.
Porque é que todo o mundo adora ser piroso desta forma? Só o José Cid pode responder:
"Vem depressa amor, não sei viver sem ti, não sei o que fazer"
A resposta inevitável: "faz-me favas com chouriço"

Enfim, o Amor é lindo...