sexta-feira, setembro 01, 2006

Mary e a Arquitectura Moderna

Tenho hoje um almoço de homenagem a um colega que parte agora para a dolce vita da Pré reforma.
O almoço será nos Dias d ‘Água, um daqueles restaurantes experimentais em local totalmente improvisado (basicamente um beco entre dois prédios). Mas porque tem umas mesas à sombra de uma parreira e a ementa tem algumas palavras estrangeiras e muitos legumes, a coisa ganha logo um chiqué intelectualóide.

Posso dizer, aliás, que escolhi o meu prato com antecedência (noblesse oblige) e apesar de ter olhado para a rúcula, cous cous e beterraba com interesse e curiosidade, acabei por ficar pelo Penne Rigatte com Farinheira e Espargos Verdes.
Para a sobremesa voltei a optar pelo light, e como tal escolhi Crumble de Maçã com gelado de baunilha e fios de caramelo.

Para além da participação no repasto, fui incumbida de tratar do presente para a homenageada.
Das várias sugestões que recebi (livros de arquitectura moderna, peças de decoração minimalistas, artigos de viagem do Coronel Tapioca, etc etc) a que mais me entusiasmou foi a que chegou off the record e recordando a abundância capilar na zona do buço da homenageada, sugeria uma pinça.

Bom, isto nos meios intelectuais não é assim tão fácil... Nós as Giras achamos que o pêlo no buço é medonho, mas elas, as Intelectuais, às vezes acham que o pêlo é um género de afirmação social: o corpo assumido em pleno com todos os seus defeitos e virtudes... tipo Frida Kahlo, estão a ver?
Eu, Intelectual e Gira, optei por olhar para a testa quando falo com ela e assim desviar a atenção do bigode. Sou a favor da liberdade acima de tudo, liberdade política, liberdade religiosa, liberdade sexual e porque não liberdade pilosa? Mais nada!
Assim sendo, não optei pela pinça e fui até à Fnac, onde estive a investigar a zona de livros de arquitectura.

Fiquei absolutamente espantada com o tamanho dos livros e panóplia de fotografias. E as resmas de nomes de gajos esquisitos (arquitectos suponho eu...) dos quais eu nunca tinha ouvido falar?
Carreguei (literalmente) uns livros até à zona de leitura e decidi escolher não só pelo nome na lombada (que confesso foi o meu primeiro impulso...) mas também pelo conteúdo.
Comecei por desfolhar uma compilação da obra de Frank Loyd Wright, que é um (se não O mais importante) arquitecto norte-americano e também o quase fundador da arquitectura moderna.

As casas eram realmente lindíssimas, mas confesso que algumas tinham um ar vitoriano... algo me estava a escapar... sempre pensei que arquitectura moderna era assim uma coisa futurista ... tudo rectas e curvas que desafiam a gravidade, no meio de metais cromados e muitos vidros.

Parece que não... afinal a arquitectura moderna nasceu no inicio do século passado, e a grande inovação da modernidade foi a rejeição do ornamento e clara opção pela economia e utilidade. O pós modernismo esse sim! Volta a dar atenção à cultura popular e ao contexto onde se irá inserir o objecto.

Resumindo, com o Modernismo rompe-se com a História e critica-se a escola do Ecletismo. Com o Pós modernismo volta-se novamente à revalorização histórica e inicia-se o Contextualismo.

Sou fascinada por estes ismos, principalmente a forma como surgem estes chavões para designar as tendências. O Maneirismo é p.ex. um termo que dá que pensar, tanto poderia significar “com maneiras, muito educadinho e asseadinho”, como um estilo cheio de peneiras, tiques e falsetes.

Mas o mais fascinante de tudo isto foi descobrir que a grande inovação do Frank, esse grande ícone do modernismo, estava afinal transposição para a arquitectura da transformação da vida doméstica que ocorreu na viragem para o século XX.
Menos criadagem resultou em casas mais amplas e com mais portas entre as divisões. Para quê? Para que a dona da casa (vulgo Xepa) pudesse estar no seu “workplace” – mais vulgarmente chamado de cozinha, e ainda assim poder controlar as crianças e circular até à sala de refeições onde estarão os convidados.

Sem palavras.