sábado, dezembro 16, 2006

Distância

Procuro um nome para esta sensação que trago no peito, que é semelhante a um buraco, não de vazio mas de distância.
Um distância semelhante a uma viagem pela multidão dentro de uma redoma de vidro. Posso ver, quase posso tocar, quase posso sentir. Mas há uma barreira tão fina, mas ao mesmo tempo tão resistente que me mantém distante, que não me deixa integrar.
No mundo terreno e visível isto é imperceptível à vista desarmada. Sigo segura das minhas decisões e convicções e viajo sem receio distribuindo sorrisos.
É no mais intimo dos meus segredos que se vive este dilema. Em que há tantas coisas que queria partilhar e não encontro como o fazer.
Não porque existam pessoas interessadas e empenhadas em fazer-me feliz, mas simplesmente porque não encaixam da forma correctamente idealizada dentro do meu mundo.
Não consigo encontrar o meu ideal de família, ou simplesmente não consigo reinventar um novo modelo em que sinta efectivamente feliz.
Há muitos momentos grande felicidade, mas falta-me a sensação de plenitude, como se de um verdadeiro alinhamento se tratasse, em que tudo encaixa, tudo flui.
Não consigo encontrar o meu ideal de relacionamento, porque invariavelmente choca com o meu modelo de família, ou fica aquém das minhas mais básicas (no sentido de mais profundas) necessidades.
Ou então choca com um modelo de mim própria, que também não consigo encontrar.
Sendo que pior que o desajustamento perante o ideal, é a ausência de compreensão da minha própria natureza, dos meus anseios e dos meus afectos. E da forma como isso choca com alguns ideais muito virtuosos que preconizo, de total transparência e dedicação, que são efectivamente nobres e elevados, mas que não facilitam muito a vida terrena, especialmente porque é a mim em primeiro lugar que eles condicionam e não deixam viver. Simplesmente viver.

terça-feira, dezembro 12, 2006

Outra vez o Amor e o Desejo

Hoje lia mais um artigo sobre como os homens e as mulheres entendem o amor e o desejo de forma diferente.
Teorizava a autora:
“Os homens desejam sempre, só amam muito de vez em quando. As mulheres amam muitas vezes, e por isso deixam-se levar pelo desejo, que também é o desejo de serem amadas.”
Dou por mim farta desta tolerância com as diferenças. Se para mim o amor e o desejo caminham de mãos dadas, e só desejo quem amo e amo quem desejo. Porque fico tentando entender quem me diz que é possível amar, mas sentindo desejo por outro que não o tal ente amado.
Bom, talvez seja melhor refrasear: sou tolerante com as diferenças. Sim, há efectivamente quem pense de forma diferente da minha e não devo ter a pretensão de converter essa diferença à minha forma.
Haverá no entanto quem pense da mesma forma que eu, e haverá também quem me ame da mesma forma que me deseja e vice versa.
Porque teimamos em converter os que são diferentes é que é realmente um mistério.
Não deveria antes seguir caminho e procurar o que verdadeiramente me completa e faz feliz?

Estou cansada de me colocar noutro lugar que não o meu. Escutar, entender e sentir de uma forma que não a minha, mas que é a do outro.
Proclamo um entendimento que nasce da cedência e do consenso, quando na verdade sou implacável comigo própria.

Não fui condescendente comigo própria quando falhei. Perdeu-se a confiança então, não há caminho de volta. Não poderia viver constrangida, ou me sentindo em permanente acto de contrição: Justificando cada passo e cada palavra.
Não esperei que se recuperasse aquilo que se tinha perdido. Decidi que deveria procurar noutro local e recomeçar da mesma forma, acreditando nas mesmas coisas.

E se encontro quem pensa e age de forma diferente da minha, devo ser condescendente? Ou ser simplesmente tolerante: respeito outras formas de pensar, mas simplesmente não me servem.

Espelho Meu

À pergunta “o que quero?” parece seguir-se inevitavelmente “o que mereço?”.
Não porque tenha optado por uma estratégia mais passiva ou contemplativa em que aguardo serenamente o que o destino me reserva (seja o que for), mas porque em determinado momento dou conta que as minhas opções (o que quero) nem sempre parecem estar à altura daquilo que verdadeiramente posso aspirar (o que mereço).
Ou porque simplesmente vou tomando consciência de que “ainda não é isto que quero”, que é uma atitude bem mais afirmativa do que aquela que não deixa de ter um tom resignado: “mereço mais que isto”.
Existe no entanto em mim uma teimosia quase absurda, que insiste em procurar aquilo que em algum momento me prendeu, mesmo que tenha sido uma ilusão ou uma projecção das minhas próprias fantasias. E que curiosamente também funciona em sentido oposto, pois se não desisto de procurar o melhor do outro. No momento em que o pior se torna evidente e irrefutável, a mesma teimosia me impede de relativizar e insiste com a interpelação: “é isto que mereço?”

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Mudar


Voltei.
Mudei de visual. Pintei-me de azul. Juntei as nuvens. Procurei o farol.
Esta sou eu.